Desde 2015, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, instituiu o dia 10 de Setembro em referência ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, e o termo Setembro Amarelo em alusão a ações de prevenção do Suicídio, mas os trabalhos de prevenção acontecem durante o ano todo.
A organização Mundial de Saúde – OMS , calcula que, aproximadamente 01 milhão de casos de óbitos são registrados por ano em todo o mundo. No Brasil, os casos registrados chegam a 12 mil óbitos por ano. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais.
A Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Aspramece), sabendo como a natureza da atividade policial causa impactos na subjetividade e saúde psíquica destes heróis de farda participa efetivamente dessa Campanha na luta pela conscientização sobre a prevenção do suicídio. O alto nível de estresse na atividade policial, a exposição diária à violência e incidentes traumáticos podem progredir para transtornos mentais graves como depressão ou estresse pós-traumático, por exemplo.
Dessa forma, entendemos que falar sobre suicídio é fundamental: significa quebrar um tabu e é a melhor forma de prevenção.
A SAÚDE MENTAL DO POLICIAL MILITAR
A mortalidade provocada por suicídio vem crescendo nos últimos anos entre agentes de segurança pública. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Gepesp (Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção), entre 2017 e 2018, mais que dobrou o número de agentes de segurança pública que se mataram no Brasil. Em 2017, foram registrados 28 casos contra 67 em 2018 (alta de 140%).
Em 2018 foram 53 suicídios consumados e 14 tentativas de suicídio. Para ambos, os problemas de saúde mental foram os mais citados como motivadores. Quanto ao perfil das vítimas, entre os policiais militares, 80% são praças, ou seja, com os cargos mais baixos dentro da corporação.*
Os policiais militares do Estado do Ceará fazem parte dessa estatística alarmante. Só em 2019, seis policiais militares cometeram suicídio.
– 23 de janeiro: capitão PM Brito
– 03 de fevereiro: soldado PM F. Silva, tirou sua vida em sua residência, na cidade de Camocim.
– 13 de fevereiro: cabo PM Nogueira, praticou suicídio no interior de seu veículo, por arma de fogo, saindo de um hospital, após ter sido frustrada uma primeira tentativa por meio de medicamentos.
– 4 de março: sargento PM Alisson, após surto psicótico, matou a esposa, atirou num amigo e, em seguida, cometeu suicídio, no Paracuru.
– 16 de março: soldado PM Almeida cometeu suicídio por enforcamento. Ele segundo pesquisa no boletim do comando geral da PMCE, vinha de licença médica com suspensão de porte de arma.
– 31 de maio: PM 2º Tenente Luis Beline de Lima, em Sobral.
Mas não são só praças que tentam suicídio. No início de agosto, um oficial do alto escalão da Polícia Militar do Ceará tentou se suicidar. Ele disparou um tiro de pistola na cabeça.
A Aspramece vem acompanhando todos esses casos e divulgando, em matérias, essas fatalidades. Com base nisso, o presidente da Aspramece e advogado, P.Queiroz, vem tentando chamar a atenção do Governador Camilo Santana para o assunto, mas o descaso do Governo aumenta a cada dia.
Em março desse ano, o presidente da entidade chegou a encaminhar um requerimento para o Governador Camilo Santana, no qual pedia uma reunião em caráter de urgência em virtude da atual preocupante situação psicológica dos militares estaduais. Em treze laudas, P.Queiroz relata o histórico do descaso do Governo com a saúde mental dos militares estaduais no Ceará, trazendo à tona todas as tentativas frustadas, até o momento, do Estado ao tentar instalar um aparelho capaz de oferecer um atendimento psicossocial de qualidade aos nossos profissionais de Segurança Pública. Desde 2008 que se vem falando na construção de um centro psicossocial para policiais militares, mas o projeto nunca saiu do papel e, até hoje, nenhum centro de apoio foi criado para atendê-los.
Não é fácil para uma entidade que cuida de militares, vê-los sendo menosprezados pelo Governo do Estado, que não se “mexe” para criar ações ou ferramentas para acolher quem mais cuida e oferece segurança à sociedade cearense. Mas isso não nos deixa desmotivados. Pelo contrário. O nosso próximo passo, em parceria com a Ordem dos Advogados do Estado do Ceará, é criar um circuito de palestras, ainda nesse mês de setembro, que tratem sobre temas relevantes para a prevenção do suicídio entre os companheiros militares. Na próxima segunda-feira, 9, P.Queiroz estará reunido com o presidente da OAB-CE e as quatro comissões (saúde, direitos humanos, direito militar e segurança pública). O objetivo do encontro é planejar os seminários de forma efetiva.
Essa é a nossa forma de romper o silêncio e despertar a sociedade para a urgência de um movimento em defesa da vida.